domingo, 21 de outubro de 2007


estou sentado no cimo dum escadote enorme.
estive aqui praí mil anos a ver tudo acontecer: as casas são montadas como legos, as ruas tornaram-se cinzento-homogénio, os carros aumentam e há uma parte do dia em que todo o mundo se enche de fumo e polui o sorriso das pessoas. o trânsito cria formas geométricas com que me distráio e jogo ao jogo do galo comigo e contra-mim. vejo, como vinagre em água, o pedaço verde do mundo, o espaço-azul e o negro; já conheço os cantos do planeta e já tentei, uma vez, descer daqui para cheirar um jardim que vi: as escadas multiplicaram-se e tornou-se monótono desce-las, tão infinitas. o cheiro cá em cima é intenso, é suor perfumado - é o bem e o mal muito apertadinhos numa caixinha de odor. ás vezes dou por mim a cantar músicas com letras estranhas, escritas com um abecedário inventado que conheço (embora não me lembre de onde) mas nao percebo. aproveito para vos contar que desaprendi a andar, porque estou sempre sentado, e tornou-se altamente perturbador tentar exercer qualquer tipo de força nos músculos da cintura para baixo. estou perro. enferrujado. desfeito.